Relato de um grupo realizado em setembro de 2015

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito. E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Rubem Braga

A palavra saudade se fez presente nesta data. Por três anos tive a oportunidade de participar do Grupo Comunitário. No princípio, uma atividade vinculada a um dos tantos estágios que a psiquiatria proporciona e atualmente um lugar necessário, de prazer e satisfação. Hoje meu último dia nesse lugar que tem me despertado para a vida. Não foi um grupo fácil, não consegui falar, paralisei, congelei… a dor da saudade aprisionou as palavras! Há 3 anos, por coincidência nesta mesma data, estava me formando e tudo que eu senti naquela época parecia muito com esse momento… um sentimento de saudade enorme! Saudade de me sentir profundamente bem, do amor, do carinho, das pessoas, das situações… me senti assim hoje! 

Durante o tempo o grupo vem me ensinando a prestar atenção na vida, a quebrar meus padrões de pensamentos tão enraizados e improdutivos, a aprender com o olhar do outro, a poder parar pra ver que por mais complicado que as coisas estejam ainda se pode continuar aprendendo e perceber que a gente necessita parar, precisa enxergar que tem um algo a mais nos impulsionando a viver… pode até parecer simples, mas de fato não é! Eu mesma demorei muito tempo para entender isso tudo.

Uma participante falou uma vez no grupo que ultimamente não estava querendo ir ao grupo pois se sentia como se tivesse em um banquete e todos estavam ali trazendo comidas fartas e que ela sentia como se não tivesse nem ao menos um tomate para levar e a sensação era “como vou desfrutar disso tudo se não tenho nada a contribuir?”. Um desabafar comparado ao meu, era exatamente como muitas vezes eu me sentia, pensava que às vezes não tinha sequer um tomate… isso me fez refletir muita coisa e principalmente que o grupo vai além do que se leva, o grupo nos ensina que a disposição para dividir o que se tem é muito mais importante e esta disposição só se torna possível quando assumimos a importância de caminharmos juntos!

Hoje um dia que encaro mais uma despedida na minha jornada e a sensação é a mesma de tantas outras que já tive, pensar que essas terças não estarão mais presentes no meu cotidiano é extremamente doloroso, mas penso que tudo que eu vivi e aprendi nesse lugar me transformou como pessoa e que levarei em outras caminhadas, pela locomotiva da vida, a percepção de que estar atenta ao processo da vida é crucial para outras tantas transformações! 

Deixo aqui meu sincero agradecimento ao grupo por me ajudar a ser uma pessoa melhor. Levarei no meu coração as pessoas e o aprendizado!

Alyssa