O grupo começou com o relato de uma fábula: O rato e a ratoeira. A estória do rato que soube que os donos da casa onde morava haviam comprado uma ratoeira para caçá-lo e, perante tal situação, este ratinho comunica o fato aos demais animais da fazenda alertando-os, porém não recebe qualquer tipo de ajuda, afinal uma ratoeira é um problema de ratos na concepção dos demais animais. No decorrer da estória, há um acidente da dona da casa com uma cobra juntamente a esta ratoeira e devido a doença que a acometeu, aqueles animais que haviam dito que não era um problema deles a existência da ratoeira sofrem as consequências do fato e são sacrificados um a um para serem utilizados no tratamento de sua dona. Lembrei-me naquele instante de uma frase de uma das personagens do livro Irmãos Karamázov:
Todos somos responsáveis de tudo, perante todos
Esta idéia reverberava nas falas e posicionamentos de cada participante do grupo neste dia, havia ali uma ligação entre as pessoas que faziam-nas responsáveis por si e por cada um que ali se encontrava. Atrelado a esta conectividade grupal, falou-se em um momento sobre relacionamentos familiares, de como estes são importantes e somos responsáveis pelo seu cuidado. Imediatamente uma voz manifesta-se contando como percebia hoje que o fato de ter ficado anos sem conversar com seu irmão havia influenciado o desenvolvimento de sua doença. Da mesma forma que voltar a comunicar-se com este irmão, a princípio em pequenos gestos e que depois com o tempo criaram força e multiplicaram-se, permitiu o ressurgimento de uma relação franca e sincera entre os dois. ”Meu irmão me melhorou…”. Este momento foi de particular riqueza aos meus olhos, pois ali havia um exemplo tão claro e genuíno do poder e conexão de simples atos com as grandes conquistas na vida de um homem que me senti honrado de compartilhar este momento com aquelas pessoas.
O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas elas vão sempre mudando.
Em outra fala, há o relato de um casal que há anos celebra todos os dias o voto de casamento, de maneiras diferentes renovando-o diariamente e como aquilo era inspirador para a pessoa que leu a matéria. Aquilo exprimia como na experiência do outro posso angariar objetivos a minha vida, como a aprendizagem humana se dá através da troca. E neste dia o que eu mais vi foram trocas e aprendizados entre todos. Um pequeno texto do livro O Escafandro e a Borboleta de Jean Dominique Bauby foi lido durante o sarau e mobilizou um dos participantes a contar uma experiência pessoal semelhante, quando esteve por muito tempo limitado os movimentos do corpo e como esta vivência mudou sua maneira de enxergar as coisas da vida. Comentou quando sofria percebendo sua incapacidade de elevar seu olhar para enxergar um simples chuveiro e um amigo afetuosamente, mas contundente lhe disse que bastasse olhá-lo mais de longe e como aquilo lhe fez sentido na maneira de encarar a vida. Ah, estes pequenos atos que dão razão ao viver! Quem poderia julgar aquilo como um simples chuveiro?!! Um integrante comenta que percebia ali naquele momento como todas as pessoas passam por dificuldades, não era apenas ela que vivia ou viveu um sofrimento. Outro membro comenta diretamente a pessoa do relato que não se preocupa com o olhar perante as coisas, pois o pôr do sol e a alvorada, que são as luzes mais bonitas do dia, você pode ver sem ter que elevar o pescoço… O aprendizado que se dissemina. Estávamos tão atentos uns aos outros, que meu desejo era que aquele grupo durasse muito mais tempo. Quando terminou tinha a convicção de que aquelas pessoas que entraram naquele grupo saíam transformadas, inclusive eu.
Alaor