Relato do encontro ocorrido no dia 19 de maio de 2015.

Mais uma terça feira no Hospital Dia, esta com cara de chuva. Mais um Grupo Comunitário e mais uma oportunidade de reconhecer que nossas histórias vão sendo tecidas no cotidiano, embora, muitas vezes, eu mesma me esqueça disso. 
E este grupo foi notavelmente coeso em estar disposto a olhar para o próprio dia a dia com olhos interessados e reflexivos. Confesso que senti inveja de muitos ali, ansiosos por compartilhar momentos tão simples e tão mágicos. Como foi bom testemunhar novos e antigos membros da equipe entre ex-pacientes e outros recém-chegados, todos acordados – sim, estavam TODOS bem acordados – para a experiência do Grupo Comunitário de Saúde Mental, com todas as riquezas que ela é capaz de produzir.
Na tentativa de descrever a minha experiência desta manhã, faço uso das sábias palavras de Guimarães Rosa, lembradas no grupo anterior por um colega:

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
Aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Coragem !

Posso dizer que, hoje, o grupo foi verdadeiramente corajoso !
Testemunhamos a coragem de abandonar um curso de graduação para encarar novamente as árduas noites de estudos e, assim, tentar um novo vestibular; a coragem de expor, de forma tão delicada, a homossexualidade, mesmo com as inseguranças e reprovações possivelmente envolvidas; a coragem de contar a própria história, com todos os capítulos amargos que exigiram luta constante; a coragem de abandonar os afazeres de um almoço caótico para observar os lentos passos de uma tartaruga…
Coragem, enfim, de estarmos todos unidos, em um dia nublado, surpreendentemente tão animados que eu me lembro da minha família a caminho da praia nas férias de verão; afinal, como convida a música de Marcelo Jeneci:

Melhor viver meu bem,
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você,
Chorar, sorrir também e dançar,
Dançar na chuva quando a chuva vem.

Estávamos todos ali, animados com as possibilidades da vida, com o que o cotidiano tem a nos oferecer, dia após dia, através de uma música, uma poesia ou uma experiência, desde que estejamos atentos a ele. Posso dizer que, ao acabar o grupo, me vi torcendo para aquele tempo nublado escurecer ainda mais, pois minha vontade era uma só: dançar na chuva sem parar!

Marina