O valor inestimável de uma experiência – maio de 2015

A perspectiva do Grupo Comunitário como um lugar de compartilhamento de experiências sempre esteve presente na proposta da atividade. Porém, no início, não era possível imaginar ainda todo o alcance deste percurso.

De fato, o convite para “trocar experiências” pode parecer algo familiar e de possibilidades limitadas quando carregamos expectativas desvitalizadas diante da realização humana e do encontro com os outros. Quando o dia a dia apresenta-se empobrecido, compartilhar a vida ressoa como algo pouco atrativo.

Como, então, tem surgido nossa surpresa e admiração diante dos depoimentos que nascem das vivências cotidianas?

Acredito que se trata de uma perplexidade diante de experiências que se revelam como de inestimável valor. No grupo, assistimos a momentos onde dizer “obrigado” parece ainda desproporcional diante da gratidão despertada, convocando a uma espécie de silêncio contemplativo.

Difícil imaginar atitude mais justa diante, por exemplo, de um jovem que traz ao grupo um torno (instrumento para moldar madeira) e conta a história de construção do aparelho: a motivação aconteceu ao perceber o sofrimento do seu pai, abatido com a doença do seu avô. Lembrando da história do avô, marceneiro, teve vontade de mostrar ao pai que “algo ia passar de geração para geração”.

O mesmo se poderia dizer diante da contribuição do participante que trouxe ao grupo uma música que quando criança a mãe sempre fazia ele escutar, “porque ela gostava muito”. Com o relato, ele nos permitiu participar da experiência de reviver a presença da sua mãe. Algo que pudemos tomar como um convite para pensar sobre como revivemos as nossas.

Descobrir o valor destes depoimentos foi facilitado pela contribuição recente de uma das participantes do grupo. Ela chamou nossa atenção para o fato de que no grupo se opera um convite para “estar sendo”. Desta forma, compreendemos que as experiências compartilhadas revelam possibilidades cotidianas de realização humana. Ou seja, atentos ao que acontece, acompanhamos quando a pessoa “acontece”.

Assim, mobilizar-se com um depoimento pode assemelhar-se a acordar de um pesadelo, no qual a dureza da vida achatava horizontes e expectativas. Despertados pela criatividade humana, enquanto instrumento que tece a história, descobrimos a potência de uma experiência.

Sérgio