Uma vez ouvi que “os olhos são a janela da alma”, e é isto: este grupo sempre me lembra de olhar para a “alma”… a “alma” que existe nas pessoas, no cuidado, nos encontros com o outro, na vida. Trata-se de um lembrete, como aquele que as avós amarravam um fiozinho, em forma de laço, no dedo, para não esquecer.
É tão comum que na correria do dia a dia, a gente se esqueça de prestar atenção, de olhar para a “alma” das coisas… E quando isso acontece: as coisas viram só coisas, as pessoas viram coisas, os encontros viram coisas, a vida vira coisa…e este acúmulo de coisas só nos esvazia, enquanto pessoas.
O que nos torna mais gente, e menos coisa?
Em um dos grupos, uma profissional da área da saúde, depois de anos na profissão disse, se referindo à melhora de um paciente do hospital: “eu ainda me emociono com essas coisas”. Um participante contou sobre sua surpresa ao ver um anúncio, no meio de um poste cheio de propagandas, que dizia “vendo… a banda passar tocando coisas de amor”. Em outro grupo, outra profissional da área da saúde conta sobre o processo de luto, pelo qual passava, e como precisou “guardar sua dor no bolso para poder ver a dor do outro”. Ouvi a história de um porteiro do hospital, que parou seus afazeres, para brincar com uma criança, que pediu sua atenção. Uma mãe que se emociona ao contar que seu filho estava percebendo o valor de uma amizade.
Todos estes trechinhos me mostraram gente virando ainda mais gente, gente olhando para a “alma” daquilo que se passava na vida delas. E todos eles me tornaram mais gente, e sou muito grata por isto. Existe uma expressão para este sentimento, na prática da Ioga: NAMASTE, que significa “o divino, que habita em mim, vê, enxerga e saúda o divino que habita em você”, entendo “divino” como essência, aquilo que é próprio do humano… a “alma”, que mencionei anteriormente.
Quero avisar que tornar-se “mais gente e menos coisa” exige coragem: coragem para se emocionar, para chorar, para comemorar, para entrar em contato com os sentimentos do outro e os próprios sentimentos. Este exercício de “ir se tornando mais gente” exige coragem, sim, mas é um dos grandes privilégios da vida.
Ana Paula